plural

PLURAL: os textos de Juliana Petermann e Eni Celidonio

18.398




Brasil em tempos de Pandemia

Juliana Petermann
Professora universitária


style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">Primeiro caso no Brasil. O dólar bate novos recordes. Regina Duarte assume a Secretaria da Cultura. 132 casos suspeitos. Nos EUA, o presidente do Brasil minimiza a crise. Bolsonaro diz que o "poder destruidor" da doença é superdimensionado. 34 casos confirmados. "O que eu ouvi até o momento é que outras gripes mataram mais do que esta", declara o presidente. Secretário de Comunicação está contaminado. 52 casos confirmados. Bolsonaro convoca ato para o dia 15 de março. Desconvoca ato. Vai ao ato. 904 casos e 11 mortes. O presidente critica estados e governadores pelas medidas de isolamento social. E comemora aniversário. 1.128 casos e 18 mortes. Para Bolsonaro, a COVID-19 não passa de uma "gripezinha". "Nossa vida tem que continuar" e "devemos, sim, voltar à normalidade", declara ainda. 1.965 casos e 47 mortes. O presidente passeia pelo comércio na Asa Norte e nas cidades satélites. Contraria medidas de distanciamento. 4.309 casos e 139 mortes. Vai a uma padaria na Asa Norte de Brasília. Vai a uma farmácia. Promove aglomerações. 16.238 casos e 824 mortes. Mais aglomerações. 20 mil casos e 1.124 mortes. O presidente conversa com apoiadores e aperta mãos no "cercadinho". Cai o ministro da saúde. 25.758 casos e 1.557 mortes. O presidente declara: "Eu não sou coveiro, tá certo?". Reunião ministerial. A famosa reunião do dia 22 de abril. 43.592 casos e 2.769 mortes. Cai o superministro Moro. Bolsonaro faz pronunciamento: fala da piscina, dos filhos, da sogra. 50.230 casos e 3.343 mortes. O presidente declara: "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?". Entrevista de Regina Duarte choca o país. 126.890 casos e 8.591 mortes. Bolsonaro marca churrasco. Desmarca churrasco. Anda de jet ski. 155.939 casos e 10.627 mortes. Cai o segundo ministro da saúde. A pasta fica vaga. 204.795 casos e 14.058 mortes. Um ministro interino da saúde vai ficando e Regina Duarte vai saindo. 271.885 casos e 17.983 mortes. O vídeo da reunião. Presidente vai a ato e segura criança no colo. 363.211 casos e 22.666 mortes. Operação Placebo atinge Witzel. Brasil segue com ministro interino da saúde. 411.821 casos e 25.598 mortes. Apreensões da CPI das fake news. Bolsonaro passeia de helicóptero. Faz parada em lanchonete em estrada. Toma café. 556.688 casos e mais de 30.000 mortes. "É o destino de todo mundo", afirma o presidente.

Em tempos de pandemia, a política insiste em não deixar a Covid ser a manchete principal.

Bendito século XXI, mas nem tanto

Eni Celidonio
Professora universitária


style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">

Há anos que eu não me lembrava tanto da minha infância... E há anos que não agradecia tanto por ter nascido na década de 1950.

Alguém pensa ser possível, hoje, viver sem eletrodoméstico? Pois é: quem, assim como eu, nasceu numa época em que se vivia no romantismo, na lealdade, no respeito, pegou ainda a época do computador, da internet, do Xerox...

Imagine que você tenha faltado a três aulas na década de 1970. É preciso resgatar tudo o que foi dado em aula. O que você faz? Simples: pega o caderno de um colega e copia tudo, eu disse TUDO o que foi dado em aula. Haja mão, haja punho, haja paciência, haja força de vontade: a letra começava de um jeito e terminava de outro. Era terrível! E hoje? Pega-se o caderno do colega e tira-se Xerox. Que coisa mais maravilhosa! Copiam-se quarenta páginas em minutos. Enquanto as páginas vão sendo copiadas, podemos ficar no Facebook, no Whatsapp... Sério, é muito, mas muito prático.

É possível, ainda, estar em cima da hora de sair e não ter tempo a perder. A fome não dá trégua. Nada de fogão e panelas: coloca-se um prato no micro-ondas e esquenta um almoço que, se não nos deixa orgulhosos, pelo menos nos deixa sem fome. Tudo muito moderno! Os carros já estacionam sozinhos, há comando de voz pra tudo, conversamos com qualquer um em qualquer parte do mundo!

A TECNOLOGIA E O ACERVO DA BIBLIOTECA

Gente! Lembro que, em 1993, fui ao Rio, na Biblioteca Nacional fazer pesquisa para minha dissertação e fiquei desesperada, porque não achei as malditas gavetinhas com as fichas do acervo. Olhei para o lado e uns meninos de uns 12 ou 13 anos mexiam num computador como se tivessem aprendido em casa. Eu fiquei ali parada, achando que ia aprender, quando um menino se incomodou e lascou a pergunta que eu evitava: "Qualé, tia? Quer alguma coisa?"... Expliquei que procurava uns livros e ele se prontificou não só a procurar pra mim, como me ensinar a mexer naquele objeto tão diferente da minha Olivetti Lettera 32.

O AVANÇO E O VÍRUS

Tudo hoje, realmente, é diferente. O que levava dias leva horas. Vejo um jogo do Real Madrid x Barcelona no momento em que ele é realizado. Quem lembra do Canal Cem, que nos mostrava lances da Copa do Mundo em preto e branco, no cinema? É melhor, é pior? Sei lá... É o que temos.

Mas eu me pergunto: como um mundo tão avançado, que facilita tanto as coisas, pode ficar refém de um vírus?

Se Copérnico estivesse vivo, ele estaria junto a Galileu Galilei, dando gargalhadas. E Darwin, com certeza, diria que o homem é simplesmente mais um elemento da cadeia evolutiva do reino animal, não o centro dele.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Sobre velhas metáforas Anterior

Sobre velhas metáforas

Primavera brasileira ou Inverno tenebroso? Próximo

Primavera brasileira ou Inverno tenebroso?

Colunistas do Impresso